De uma forma não totalmente inesperada, o Jardinismo é hoje a principal força de bloqueio ao aprofundamento do processo autonómico. Há, nesta constatação, algo de, aparentemente, paradoxal: o Jardim da Autonomia é, nesta tese, a sua principal força de bloqueio.
Nada disto é verdadeiramente surpreendente . A maneira de fazer politica, orientada para objectivos meramente partidários, que por sua vez, são uma síntese de uma insuportável lógica de defesa, escandalosa, dos objectivos e interesses de uma elite, tornou a praxis politica do PSD atrofiada, egoísta e miserável.
É por isso que a linha politica de Jardim está presa a ele próprio: não existe sem ele e será destruída com ele. A defesa do aprofundamento da Autonomia, essa “vaca sagrada” do PSD, serve para quase tudo, mas principalmente como bode expiatório de uma incompetência sistemática e de uma clara incapacidade reformista e governativa. Mas, infelizmente, a Autonomia como potenciadora de melhores condições de vida para todos os madeirenses tem , com Jardim, uma irreverência insonsa e frágil.
A genuinidade da importância de uma Autonomia séria e consequente está, infelizmente, seriamente comprometida. Não pelo poderoso e inequívoco significado dela própria, mas pela perversa apropriação desta pelo PSD, para fins manifestamente maliciosos.
Na Madeira, o corolário mais evidente do processo autonómico tem sido a geração excessiva de tensões, conflitos e birras inconsequentes, no plano da relação estado/região, com prejuízo para os madeirenses.
É neste contexto que se situa a tese deste artigo.
Não existe em Portugal um politico, sério, rigoroso e defensor da democracia que possa admitir o aprofundamento de uma Autonomia que coloca no bolso, e espezinha, o essencial dos princípios democráticos, da elevação, da ética e da responsabilidade institucional. De uma Autonomia, para uso e abuso de quem há muito goza de uma incompreensível inimputabilidade social e politica!
Afirmo, por isso, e estou certo que não me engano, que as dúvidas que Cavaco demonstrou nos Açores sobre a autonomia são menos uma advertência a Carlos César e mais um aviso ao populismo de Jardim. Contudo, César já demonstrou que não permitirá que o aprofundamento da Autonomia dos Açores seja colocada em causa pelo “exotismo” da governação do PSD Madeira e pelo comportamento grosseiro de Jardim, remetendo responsabilidades para os órgãos de soberania, face à suspeita de tratar igual o que é diferente.
Assim, o que em teoria poderia querer significar a criação de bons ajustamentos, mais ou menos profundos, em áreas que vão desde a economia às questões sociais, estão hoje seriamente comprometidas porque, na prática, o nosso interlocutor regional transformou a Autonomia numa “arma mortífera” para com os princípios básicos do respeito institucional.
Os “fazedores de problemas” da política portuguesa, em que Jardim e os seus delfins se tornaram, remetendo a Região para um óbvio isolamento institucional, dão-lhes pouca, ou mesmo nenhuma, margem de manobra para serem bem sucedidos no aprofundamento da nossa Autonomia.
publicado no DN Madeira
C'ma Diz O Outro #100
Há 23 horas
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