segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Notas da minha intervenção do orçamento rectificativo da Madeira



1.    Se há coisas que devem envergonhar, fazer corar de vergonha, o governo é ser caloteiro. Mas o mais grave é que o Senhor Governo está-se nas tintas para esse posicionamento. Limita-se, imaginem, a dizer que a culpa é dos outros...
2.    Mas, Senhor Secretário, a vergonha de ser caloteiro não é só por não ficar bem. É por ficar claro que o Governo é irresponsável, imprudente e desleixado. É perceber que essa atitude custa bastante mais aos madeirenses: entre 2006 e 2008 os juros de mora dos Encargos Assumidos e Não Pagos (EANP) cresceram 60%.
3.    Mas os EANP ainda reflecte um outro problema: a falta de seriedade na programação orçamental. O Governo estabelece as despesas com sofreguidão eleitoral e depois inventa receitas.
4.    Assim garante o cabimento orçamental mas não a disponibilidade financeira. Portanto, a primeira observação é lamentar que nada tenha mudado mesmo com o prejuízo provocado nas empresas madeirenses.
5.    Sendo assim, interessa avaliar a questão do orçamento rectificativo. Os fundamentos apresentados têm razões fortes, não pelo embaraço do governo, mas pelo prejuízo que provocam nas empresas envolvidas e o efeito na economia e emprego.
6.    Mas que fique claro que não passaremos uma esponja nas opções de investimento do GR e na insensatez de contractualizar sem condições de o fazer. Não apoiamos o governo neste desvario. Nesta praga que começa a roçar um traço de governação.
7.    Temos sim consideração pelas empresas que em boa fé aceitaram trabalhar para o GR e, em contrapartida, de má fé o Governo deixou-as penduradas.
8.    Por isso, duas notas devem ser sublinhadas: esperemos bom senso nos investimentos futuros e, sobretudo, contratualizações seguras e de boa fé assentes numa boa gestão de dinheiros públicos
9.    Mas, o mais grave de tudo isto, Senhor Secretário, é que o Governo há muito que devia ter apresentado um orçamento rectificativo e não apenas no lado da receita mas principalmente nas despesas de modo a suportar os problemas sociais e relançar o sector privado.
10.                   Nós, como V. Exa. sabe apresentámos uma proposta no inicio do ano e, de forma irresponsável, foi reprovada pelo PSD. A proposta de orçamento rectificativo que apresentamos constituía uma lufada na governação
11.                  e sublinho tudo isto para dizer que não admitimos, o grupo parlamentar do PS Madeira não admite, que alguém desta casa ou fora dela tenha o desplante de nos dar lições de solidariedade e preocupação com os madeirenses.
12.                  O PSD e o Governo Regional não sacuda a água do capote porque o problema de EANP não surge por obra e graça do divino espírito santo. É da responsabilidade do PSD e portanto era bom que mostrassem um bocadinho de humildade e reconhecessem a sua total responsabilidade. Era o mínimo esperado de um governo decente.
13.                  Não vale a pena tentar passar ao lado do problema: a discussão séria e relevante não é autorização de endividamento. É a existência de um descalabro das contas regionais que coloca as empresas em apuros quando se relacionam comercialmente com o governo.
14.                  Defendemos e estivemos ao lado da aprovação da proposta de mais endividamento mas não pelo Governo, mas sim pelas empresas.  
15.                  O que se percebe hoje,  mais uma vez, é que se não existisse um orçamento rectificativo nacional, os EANP continuariam a engrossar e a penalizar o sector privado da Madeira, sem esperança para as empresas que aceitaram trabalhar para o governo. Aparentemente o Senhor GR não tinha alternativas.
16.                  Mas a dívida administrativa não é um problema novo: em 2006 os EANP correspondiam a 270 milhões de euros. Em 2008 o Programa Pagar a Tempo e Horas, criado pelo governo da república foi um fato à medida da Madeira que utilizou 80% do programa e pagou 256 milhões de atrasados...
17.                  Hoje, já ninguém sabe qual o montante efectivo dessa dívida mas de uma coisa sabemos: o governo regional não aprendeu nada e continuou a gastar sem ter recursos disponíveis e, portanto a aumentar a dívida administrativa.
18.                  É por isso que o Prazo médio de pagamentos da Madeira varia entre 300 e 202 dias enquanto os Açores entre 15 e 20 dias.
19.                  Mas vale a pena referir o exemplo da governação dos Açores, mais uma vez: eu esta semana tive, mais uma vez,  vergonha de ser governado por um governo despesista onde o regabofe é a regra.
20.                   Nos Açores o respectivo governo não quer/não precisa de endividamento. Não tem EANP, tem uma divida directa que é 1/3 da da Madeira e a indirecta é ¼ da nossa. Nada disto é por acaso. Mas com tudo isto os Açorianos ainda beneficiam de:
a.    menos impostos às famílias e às empresas
b.    maiores salários
c.     mais apoios sociais; aos idosos (complemento solidário), aos jovens (passes altamente subsidiados, viagens inter-ilhas a 1 euro), aos funcionários públicos (maior subsídio de insularidade e descongelamento da progressão na carreira)
d.    mais apoios às empresas
e.    mais índices de conforto
f.      menor pobreza
g.    combustíveis mais baratos
h.    maior rendimento das famílias

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