Perante as sucessivas previsões dos organismos internacionais sobre a crise que afecta o mundo e depois das últimas previsões da União Europeia a análise possível sobre o impacto na Madeira merece os seguintes comentários.
Apesar da gravidade das previsões sobre Portugal, estas merecem três comentários relevantes:
1. são menos pessimistas que as anteriores designadamente as do FMI;
2. Portugal apresenta dados menos negativos que os restantes países europeus, estando abaixo da média Europeia, em matéria de redução do PIB e aumento do desemprego.
3. Portugal escapa ao procedimento dos défices excessivos, demonstrando uma boa capacidade de controle do défice;
Mas perante um cenário, mesmo assim negro, era relevante extrapolar as previsões para o que se pode passar na Madeira.
Infelizmente não existe um trabalho sistemático da Direcção Regional de Estatística (como seria de esperar) sobre a evolução da criação de riqueza na Madeira (PIB e outros indicadores), mesmo assim, pela análise do passado ainda é possível retirar ilações com grau significativo de coerência e credibilidade.
Ora, nos últimos anos (a partir de 2004) a evolução do PIB da Madeira tem demonstrado uma tendência para ficar abaixo da média do país, e abaixo de regiões como os Açores, sendo que se a comparação for no âmbito do PIB real a situação ainda é pior.
Em 2009 a tendência de redução de criação de riqueza que se vinha verificando e a influência da crise em todo o mundo e em particular em Portugal, demonstrada pelas sucessivas previsões, conduzirá a Madeira para um beco muito estreito de criação de riqueza e emprego, por várias razões, entre elas as seguintes que considero muito importantes:
1. pelo elevado grau de integração da economia da Madeira na economia Portuguesa. Na verdade, a maior parte das empresas que operam na Região e em particular aquelas que têm contribuído para o crescimento de riqueza, designadamente nas obras públicas têm a sua sede no continente e os efeitos nefastos da crise sobre estas estender-se-ão à Madeira, apesar do mesmo poder acontecer com uma “decalage” de 8 a 10 meses. Alem disso, sector dos serviços, que corresponde a mais de 60% da economia regional, têm uma quota significativa de integração com empresas nacionais (serviços financeiros, seguros, serviços de apoio às empresas...) pelo que o efeito da integração da economia madeirense na economia portuguesa é irreversível e significativo.
2. Pela dependência da economia regional ao sector do turismo que pode provocar o efeito em dois sentidos (positivo ou negativo) mas que os dados recentes apontam uma predominância negativa pela grande exposição à crise dos principais mercados de procura do destino Madeira e pela incapacidade de reorientação desta tendência e dependência. Ou seja, a origem da principal procura do destino da Madeira, está em mercados que atravessam uma crise significativa (como seja a Inglaterra e a Alemanha, alem do próprio Continente português) pelo que as previsões da UE afectam directamente o comportamento do turismo na Madeira, prejudicando as suas principais variáveis (como ficou claro com as previsões dos últimos seis meses).
3. Pela exposição excessiva de uma componente significativa da criação de riqueza da Madeira aos efeitos da crise internacional, decorrente das actividades internacionais do Centro Internacional de Negócios da Madeira (apesar da riqueza ser parte dela virtual, decorrente do efeito de imputações “atípicas” no PIB)
4. Pela incapacidade da Madeira na obtenção de recursos financeiros externos que permitam a manutenção de uma política de acrescentar meios financeiros alheios (financiamento bancário) que promovem o emprego (que apesar de insustentável e revelador de um desperdício irrealista, conforme se viu no passado recente, foi sempre o garante de taxas de desemprego baixas). Esses meios financeiros serão cada vez mais difíceis de obter decorrente do estado actual do sector financeiro que estreitou de forma significativa os projectos capazes de serem alvo de financiamento. As dificuldades da Via Madeira são disso um exemplo. Alem disso, o excesso de recurso ao crédito por parte do governo retira margem ao sector privado de se financiar de forma competitiva, na medida em que acaba por concorrer pelo mesmo dinheiro disponível com o sector público.
5. A dependência excessiva da Madeira em termos de importações (défice externo elevado onde as exportações cobrem apenas cerca de 15% do total das exportações, enquanto nos Açores cobrem 40%) pode complicar significativamente o bem estar dos madeirenses, o nível de pobreza e, sobretudo, os custos de factores que prejudicarão significativamente a competitividade da empresas locais
Todos estes cinco factores levarão a um ano muito difícil para os madeirenses em que ceteris paribus (mantendo todo o resto constante) as previsões da União Europeia afectarão significativamente os madeirenses.
Alem da persistência de falências e processos de insolvência, designadamente em sectores mais expostos, conforme verificado nos pontos anteriores, podemos afirmar com algum grau de credibilidade que a taxa de desemprego ultrapassará a média nacional e, no fim do ano poderá facilmente atingir os 15 000 indivíduos, passando a fixar-se ao nível dos 2 dígitos. Esta circunstância decorre da fragilidade da nossa economia e pela incapacidade de encontrar alternativas robustas às vicissitudes da crise internacional
Com este cenário aumentará os índices de pobreza, emergindo em força pobres oriundos de uma classe media desempregada com reflexos em todo o equilíbrio social da Madeira. Será a classe urbana mais afectada dado ser aquela com menos formas de encontrar alternativas à sobrevivência...
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