"Há noites em que um homem não pode estar em casa – pelo menos com a televisão ligada. (...)O homem da Madeira não deixou falar o jornalista “mais antigo da Europa”. Estava, literalmente, em casa - e teve direito a 30 minutos de tempo de antena. Até parecia uma entrevista na RTP Madeira, feita por um dos mais novos jornalistas locais: Jardim a falar para o povo português, obviamente com cubanos e colonialista incluídos. Sem ser incomodado. Dizendo todos os disparates que já trazia na manga, quase como se estivesse sozinho em estúdio. Manifestando o seu acrisolado amor a Portugal e aos portugueses – sem que ninguém lhe lembrasse os tempos da Flama, as bombas a rebentarem, as perseguições a militantes de esquerda, as ameaças a jornalistas na Madeira, os escândalos na Assembleia Legislativa, os negócios para os amigos, os empregos para os correligionários, a divida pública, o desemprego, o abandono escolar, os dinheiros loucos gastos com o futebol e com o jornal da Igreja pago pelo Estado, as gerações futuras endividadas até ao osso. E Crespo a assistir, tentando aqui e ali, timidamente, interromper o caudal de frases que Jardim trazia de casa para dizer … aos cubanos.
Obviamente, nada estava combinado – mas o caudilho da Madeira não podia ter sonhado melhor entrevistador….
… Mas chegado aqui posso admitir que se tratou de uma estratégia genial de Crespo: estender a passadeira vermelha ao inefável Jardim para que este sonhe dar o salto da Madeira para Lisboa, a cidade onde o líder ilhéu diz passear há mais de 30 anos à vontade e sem que alguém tenha sido antipático para si.
Confesso que se foi isso dou os parabéns ao Mário Crespo. É que isso era mesmo o que mais gostaria de ver: Alberto João Jardim candidato a primeiro-ministro de Portugal, em campanha não na Calheta, mas no meio dos cubanos e dos colonialistas. Com os bastardos, para não dizer filhos da puta, dos jornalistas – lembras-te, Mário? - a acompanhá-lo."
Ribeiro Cardoso
1 comentário:
hahahha grande texto!!!!
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