Há na recente
reorganização de serviços da RTP e RDP Madeira uma cortina de fumo descarada
que ameaça seriamente a idoneidade
daqueles que lideraram e montaram toda aquela encenação exótica.
Nada disto é
novo e muito menos me surpreende, mas o excesso de desfaçatez ao forjar um fato
à medida de interesses distantes dos objectivos da rádio e televisão públicas
deve merecer a indignação no tempo adequado.
Enquanto muitos
madeirenses andavam de cabeça às voltas com a tragédia de 20 de Fevereiro, eis que alguns senhores
congeminavam com afinco para
tentar vãmente “tornar coerente uma mudança incoerente”. Para volver “adequada” uma alteração
altamente “dissonante”.
Não se trata
apenas da opção, talvez mais mediática, de uma comissão de aconselhamento. Refere-se,
sobretudo, à transição efectuada para um modelo de gestão do serviço de rádio e
televisão que não cumpre sequer objectivos de contenção de custos (a estrutura
de gestão alarga-se) ou de aproveitamento dos recursos internos (envolve
quadros externos à instituição) ou ainda de aprofundamento das especificidades
e necessidades do serviço público na RAM. Mas, mais grave que tudo isto, esta
mudança denuncia intenções e esclarece dúvidas: a alteração orgânica apenas tem
lugar na Madeira. Não é uma estratégia da administração para os centros
regionais. É um modelo para impingir aos madeirenses: sem reflexão, sem
discussão, por detrás dos bastidores, mais uma vez no pressuposto e no
desplante de considerar que os madeirenses hão-de aceitar aqui o que ninguém
aceita nem no País e nem na
Europa. Pior. Discutido de restaurante em restaurante ou entre os intervalos de
jogos de golfe. Uma audácia sem
limites de um cozinhado a cheirar a esturro e de uma tacada viciada!
Estaríamos
perante o dilema do ovo e da galinha, duvidando de quem tinha chegado primeiro,
se não fosse já descortinado parte do enredo. Se é verdade que o actual
director de canais (?) não merece, em termos curriculares, qualquer dúvida - o
parecer da ERC é objectivo e rigoroso e, pelo menos por enquanto, ainda é cedo
para avaliar a sua capacidade de manter a isenção e independência -, o mesmo já não é possível afirmar do
director com responsabilidade de gestão que, aparentemente, ficou de fora do
parecer da ERC, escapando à sua análise e juízo. Resta a dúvida: se este é o modelo adequado para a Madeira,
porque também não é o para os Açores? Pedro Bicudo pode acumular as funções de
gestão e de informação. Porque razão Gil Rosa também não pode?
Quanto ao
Conselho de Aconselhamento, os seus objectivos merecem a minha mais elementar
concordância, se falarmos no plano estrito dos princípios. Com uma sociedade
civil castrada, um governo persecutório e totalitário, faz todo o sentido um
órgão desta natureza que ajude à independência das decisões da instituição. E
quanto à execução concreta desse princípio? Ora, é aqui que reside o problema.
A Comissão apresentada é totalmente obtusa na sua forma e na sua constituição.
A
RTP tem um conselho de opinião e a sua administração, a mesma que engendrou a
solução da Madeira, sabe que é composto por membros indicados por associações,
organizações não governamentais e outras entidades representativas dos
diferentes sectores de opinião pública, incluindo o parlamento e as assembleias
legislativas regionais.
Os
seus membros são inteiramente independentes de quem os indica. Um conselho de
aconselhamento criado desta forma teria o meu total apoio e regozijo.
Mas esta
imitação “low cost” do conselho de opinião da RTP não foi criado de forma
adequada e a sua composição não traduz os interesses da sociedade civil.
Infelizmente, a pluralidade de opinião e a isenção estão longe de estarem
garantidas com um órgão desta natureza. Percebemos todos a “estratégia de
paróquia”, convidando elementos vulgarmente conotados, agora ou no passado, com
o PS M, numa espécie de “serviço mínimo do pluralismo”. Mas não chega e muito menos satisfaz o que simula cumprir: o
pluralismo real e não encenado. A indicação de um conselho desta natureza
ultrapassa as conotações partidárias e deve seguir uma forma consistente para
não se tornar escandalosa!
Nada disto é
neutro para a Democracia e a pluralidade. Receio que continuaremos numa
situação em que não se separa o trigo do joio, ou melhor, separa-se - renegando
o trigo e relevando publicamente o
joio.
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