Depois de ter escrito uma
curta reflexão sobre as expectativas para a economia da Madeira para o ano
2010, que publiquei no meu blogue pessoal, senti um calafrio que me deixou
cabisbaixo.
Curiosamente, não por causa da
dura realidade com que seremos efectivamente confrontados, mas porque verifico
com tristeza e, sobretudo, com uma espécie de humilhação inultrapassável, as
semelhanças daqueles que ousam pensar e contar diferente, com o homem da caverna que Platão genialmente descreveu na sua
conhecida alegoria d’“o mito da caverna”.
Platão quis mostrar que
devemos aprender a pensar por nós mesmos e, principalmente, que é preciso
aprender a ver não só o que as pessoas que têm o poder nos mostram, mas ver
para além disso e até diferente disso.Há, entre nós, muitos que não querem sair
da caverna. Pior. Há entre nós alguns que criticam duramente os que saem da
caverna, fazendo, assim, cair
sobre si mesmo, e sobre os restantes, um forma de comodismo insuportável e,
sobretudo, castrador de uma sociedade moderna, aberta e criativa.
Não tenhamos nenhuma ilusão: O
que o poder regional nos serve diariamente é-lhe útil para transmitir a ideia
(já desgastada) de um admirável mundo de sombras projectadas numa caverna
escura e repleta de contradições. Ou saímos dela e procuramos a realidade, ou
deixamo-nos envolver nesse jogo escuro de obstáculos e mentiras. Sair da
caverna é difícil. Implica uma estóica vontade de saber a verdade. Mas, voltar
para contar aos que ficaram pode ainda ser pior, como nos descreve Platão. Na
verdade, ninguém gosta. Eu pelo menos não gosto, de ser ofendido na minha
honra, nos meus princípios e naquilo que é o essencial do meu pensamento, de
forma gratuita ou mesmo por “preguiça” de conhecimento. Por isso, ser
mensageiro de “novas verdades” ou de uma outra realidade é um fardo pesado na
caverna em que alguns escolheram viver e, pior ainda, querem impor aos outros. Quanto mais
ouvirmos, quanto mais soubermos, quanto mais discutirmos, menos sombras nos
iludirão. Este poderia muito bem
ser a essência de um desejo de inicio de ano novo. Mas um ano não chega.
É preciso mais tempo. Mas também mais gente com mais coragem para afastar-se do
logro cómodo das sombras que nos iludem sistematicamente, sem qualquer
hesitação e com uma feroz vontade de atropelar os interesses comuns.
Assim, depois de tudo isto,
sobra um nó na garganta de quem espera
um ano de dificuldades sempre ocultadas, de realidades ficcionais e de
responsabilidades nunca assumidas a atribuídas a quem de direito e que, de
facto, devia assumi-las.
Para 2010 seria mais cómodo
ficar na caverna. Muitos ficarão. Mas a imprudência quase sempre resulta mal,
por isso falarei a verdade. Como escreveu Italo Svevo, sobre o seu próprio
livro “Senilidade”, “não existe unanimidade mais perfeita que a do silêncio”,
por isso não se trata de ser ou não generoso, de ser ou não pessimista, de ser
ou não prudente. Trata-se sim da constatação insuperável de que é preciso que o
juízo sobre o governo de Jardim não seja uma obra prima da propaganda. Não é um
desafio partidário. Enganam-se os que procuram aí a justificação para a critica
legitima às decisões fracassadas do governo em exercício na Região. É um
projecto para a sociedade madeirense.
Mas esta constatação encerra
um sentido irónico e paradoxal na nossa trágica existência quotidiana. Na
verdade, depois de uma severa
multiplicidade de erros, cumplicidades perversas e prevaricações óbvias por
parte de um governo que, além de amador, é também uma espécie de “holding” de
interesses. Aparentemente, nada motiva a sociedade à mudança: nem um mau
governo; muito menos a corrupção, onde a haja, e menos ainda o desacerto na
utilização dos recursos. Faz-me pensar se todos estamos a cumprir o nosso papel
em democracia. Faz-me desejar que todos façamos um esforço para sair da caverna
e voltar para contar o que vimos. Só assim pode arrancar o projecto de mudança.
E mais cedo do que tarde, confrontar-nos-emos com ele. Ninguém foge ao seu Destino.
Nós cumpriremos o nosso.
1 comentário:
Acedam ao novo blog contra o regime mamadeira:
http://verdademadeira.blogspot.com/
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