segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Jardim criou um modelo que retira riqueza aos madeirenses...


O sinal mais claro do risco da gravidade económico-financeira da Região foi a manutenção, no final do ano de 2009, do Outlook negativo à economia regional da empresa de classificação de risco Moody’s, demonstrando que de 2008 para 2009 não existiram alterações significativas na probabilidade de risco de falência técnica da RAM que permitisse evoluir, por exemplo, para um outlook estável.
Razões de um rating em descida vertiginosa
Esta avaliação tem sobretudo a ver com a debilidade da economia madeirense, a dificuldade de gerar receitas e, principalmente, a dependência de recursos externos, em particular de endividamento excessivo.
Debilidade da economia
A debilidade da nossa economia é estrutural (mercado pequeno, distância dos centros de decisão,...) mas também é consequência da ausência de medidas concretas que alterem positivamente o ambiente empresarial que as nossas empresas se movimentam: quer no quadro fiscal, quer na transparência, quer nos custos de transporte, quer nos factores de competitividade onde o governo, pura e simplesmente, hibernou definitivamente para esta matéria. Mais grave é que a Madeira ostenta os famosos défices gémeos: orçamental e comercial.
A divida da RAM é anormal: para uma região com um orçamento de 1500 milhões a dívida, em todas as suas vertentes ultrapassa os 5 600 milhões de euros. O défice comercial demonstra a fragilidade do modelo económico de Jardim onde as nossas importações têm uma taxa de cobertura de apenas 15% (os Açores são 45%)  
Dificuldade de gerar receitas
A dificuldade de gerar receitas é uma das conseqüências mais óbvias da falência do modelo de Jardim. As opções de investimento público são uma autêntica árvore de natal cheia de custos e sem resultados líquidos para o desenvolvimento  do bem estar dos madeirenses. Verifica-se, com o PSD Madeira no governo, uma extrapolação grosseira entre crescimento conjuntural, pela via da adição de recursos financeiros externos (venham de onde vierem) traduzido em investimentos irrealistas (numa análise custo/beneficio), com o desenvolvimento sustentável onde esses recursos terão de ser pagos (sobretudo) com o resultado do investimento e ainda serem geradores de riqueza adicional.
Dependência de recursos externos
Finalmente, a incapacidade de gerar receitas e a necessidade de manter o monstro a andar (a frágil economia da Madeira e os interesses gerados em torno do regime) obriga a recursos externos, principalmente endividamento externo cujo efeito de médio e longo prazo é retirar riqueza aos madeirenses.
Dívida em crescimento sistemático
A observação estatística prova que o endividamento da RAM não pára de crescer de ano para ano. E para aqueles que se concentram na divida directa da RAM é preciso explicar (bem explicadinho) que passar o endividamento de uns agentes para outros não diminui a divida e, sobretudo, não a impede de aumentar. É o caso das engenharias PATRIRAM, Vias litoral e expresso e agora Via Madeira, entre outros (que ascendem a mais de 1 500 milhões de euros- um orçamento inteirinho!).
Um modelo que retira riqueza
O drama da madeira é que o governo regional do PSD estabeleceu um modelo que retira riqueza aos madeirenses.  É fácil de perceber, vejamos: o PIB cresceu em 2008 apenas 0,6% mas na prática nem cresceu, teve uma evolução negativa porque é preciso retirar o crescimento da componente de investimento da Zona Franca e os juros da divida; ou seja, desta forma, estamos mais pobres do que antes. É um modelo assente em investimento desproporcional à geração de rendimento, por isso, tem de recorrer ao endividamento para se financiar. Não há volta a dar porque o investimento proporcionado por esses meios não libertam meios financeiros nem para pagar os custos do investimento, muito menos para gerar riqueza adicional. O grande erro de concepção deste modelo jardinista é considerar que o beneficio de qualquer obra (estrada, marina, centro cívico) é todo o emprego e matérias primas que se utilizam aquando a sua construção. Nada mais falso porque isso é só o custo do projecto. Era expectável que essa obra gerasse meios para pagar o seu custo e criasse ainda riqueza adicional. Na maior parte dos casos não tem sido assim, mesmo admitindo que existem casos em que esta análise deve ser relativizada, infelizmente esta tem sido a regra do Jardinismo.
Mais uma vez importa sublinhar que quando o Governo de Jardim faz apologia de um PIB elevado esconde a verdadeira questão que é o nível de bem estar dos madeirenses que paradoxalmente está estagnado ou em recessão.
Por isso há uma razão adicional para abandonar o PIB enquanto indicador de desenvolvimento, além do efeito da Zona Franca, que é a taxa de endividamento da Região ao exterior, resultando assim no pagamento exacerbado de juros e comendo grande parte do bem estar dos madeirenses.
A região estará falida?
Sendo assim, com este enquadramento, o indicador PIB revela que a evolução da economia está baseada no endividamento e no investimento directo estrangeiro que passa pela Madeira mas que não fica cá!
Em conclusão, parece evidente que sem este endividamento era impossível a taxa de investimento que temos praticado e era impossível os níveis de consumo que auferimos. Por isso, só há um caminho: alterar o modelo de modo a que o investimento traduza uma efectiva criação de riqueza. Assumir que a Zona Franca provoca um empolamento no PIB que desvirtua a análise do crescimento económico e o seu impacto no bem estar. 

Como mudar de vida?
Para mudar tudo isto é preciso pensar numa séria e ponderada estratégia de diversificação da economia colocando no centro do desenvolvimento as empresas: único motor de desenvolvimento de qualquer região.  
Sabendo ainda que a acumulação de investimento físico está no limite máximo é indispensável que a Região coloque o acento tónico  na inovação na qualificação e I&D. Mas só se faz isto com estratégia e com vontade política. Precisamos de um compromisso com todos. Este governo não tem nem capacidade, nem visão estratégica, e, ainda por cima, está demasiado comprometido com interesses contrários aos exigidos para a dinamização de uma economia do conhecimento. Em jeito de brincadeira (mas muito séria), diria que se trocássemos Jaime Ramos por Steve Jobs  (em todos os sentidos) poderíamos ter um ciclo de crescimento económico com repercussões claras no bem estar das populações.
publicado no tribuna da Madeira

Sem comentários: