Entre a festa do limão e um badalado almoço na Quinta Vigia com os senhores da bola passaram alguns dias. Poucos, na verdade. Entre estes episódios notáveis da vida do cavalheiro que dirige os destinos da Madeira aconteceram algumas coisas bastante mornas na perspectiva política. Irrelevantes, até. Mas, no mundo de Jardim o burburinho não é enfadonho nem irrelevante: é histérico e patológico. Por isso, o que quase parece irreverente é simplesmente abordoada governativa, simplória e paradoxal, num traço ignóbil de demagogia inaceitável.
Até por isso, sempre que me atrevo a escrever sobre a governação da Madeira deparo-me com uma inultrapassável dificuldade: a insuficiência da língua portuguesa para expressar tudo o que de relevante faz Jardim e a sua “trupe”. Não por culpa da língua portuguesa, mas pelo exagero do patético num governo que, ceteris paribus (mantendo tudo como está), acabará por liquidar a Região que governa.
Assim, mesmo sem querer, acabo por cair num eufemismo sistemático, atenuando uma verdade dura e penosa por falta de vocabulário proporcional ao disparate.
A origem de mais um rocambolesco episódio da vida política na região foi a visita de José Sócrates à Madeira. Mas, o palco principal da verdadeira noticia foi uma festa: a do limão. Aí Jardim desfere o golpe esperado a Sócrates, apesar de poucos perceberem porque razão não abriu a boca quando ficou a poucos centímetros do Primeiro Ministro, no bastante visível aperto de mão acompanhado com vénia profunda, executado magistralmente e sem qualquer hesitação, no aeroporto da Madeira.
Claramente o chefe do governo da Madeira não se dá com a frontalidade, clareza e debate aberto. Prefere o azedo da distância para propagar a mentira como forma enervante de branquear a sua incompetência.
Foi isso que fez lá na freguesia da ilha retomando os insultos e os impropérios suspensos por 7 horas.
Foi com isso que desatou um cata-vento de reacções do seu PSD: no parlamento da Madeira, depois da fuga em bando para o Porto Santo, receando terem de admitir estarem-se todos a marimbar para a normalidade institucional intergovernamental, o grupo Parlamentar do PSD pede um debate impossível: querem Jardim com Sócrates na ALRAM. Depois, tomando consciência que o absurdo não passava impune, distanciaram-se da ideia inicial e decidiram-se por um debate em qualquer lugar, se calhar na próxima festa do pero, ou da anona, ou da maçaroca, provavelmente com televisão, se calhar sem deputados e até porventura só com Jardim.
Ao mesmo tempo Jardim, ainda na ilha, na festa do limão, enciumava com a simpatia dos empresários da Madeira para com o Primeiro Ministro, durante um almoço que foi convidado mas que primou pela ausência. Sem se conter, desatou às ofensas e à desconsideração, desta vez aos empresários. O habitual. De seguida, antes do “almoço da bola” na Quinta vigia, e depois da festa do limão, num seminário de homenagem ao empresário madeirense, promovido pela ACIF, enjeitou um discurso “mal amanhado” para introduzir a sua imagem de marca: a contradição permanente, num hino á sua falta de credibilidade. Aí elogiou os empresários, os mesmos que havia criticado duramente. Mas, antes de tudo isto, pela calada, já tinha proposto, ao melhor estilo estatizante da economia, uma lei, não para a Madeira(?!) mas para o país, que proibe os despedimentos colectivos, numa machadada ao funcionamento do mercado, à mobilização do investimento privado e à sustentação do emprego. Numa palavra: um populismo perigoso e ofensivo. Mas Jardim é assim. Desfere tontices destas aqui e ali num único propósito: servir de arma de arremesso para uma política trauliteira e inconsequente. Nesta espalhafatosa acção governativa, Jardim ainda sublinhou outra decisão irreversível: dar de bandeja mais de 30 milhões para o estádio do marítimo (até porque também deu outros tantos milhões para o do Nacional!) e por cima do seu douto sentido de responsabilidade, depois de estoirar os milhões dos madeirenses na bola, desafiou os empresários a investirem num hospital, numa lógica de parcerias com o Governo?! Tudo, sem o mínimo de indignação.
Entretanto, com esta azáfema, não teve tempo de legislar a sua única medida anti-crise para apoiar os desempregados. Demorou tanto tempo que desde que a medida foi anunciada até hoje já são mais de 1 500 desempregados, num total de quase 12 000.
Assim, entre o limão e a bola sobra pouca coisa relevante, só mesmo o espelho de Jardim...
"publicado no DN Madeira"
C'ma Diz O Outro #100
Há 1 dia
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